O que você faria se você coordenasse uma equipe de professores bastante qualificada, dispusesse de excelente infraestrutura e material didático, lidasse com um grupo de alunos de alto potencial cognitivo e ainda tivesse os números de aprovações em vestibulares para comprovar a eficiência da sua proposta pedagógica? Você poderia, com razão, comemorar os resultados. Ou, se você for como Áurea Bazzi, coordenadora do Ensino Médio do Colégio Albert Sabin, você pensaria no que fazer para melhorar.
No último vestibular, 112 dos 133 concluintes do Sabin em 2016 – 84% da turma – foram aprovados em pelo menos uma faculdade, a grande maioria (70%) em mais de uma. Metade (67 alunos) conseguiu vagas em universidades públicas, e só na USP foram 25, cinco dos quais em cursos da concorrida Escola Politécnica, e um primeiro lugar, no curso de História. “Sem dúvida, foram resultados excelentes”, avalia a diretora pedagógica do Sabin, Giselle Magnossão.
Áurea concorda com a diretora, mas não se dá por satisfeita. Ainda que ela saiba que os números se devam, em parte, à competência e à qualificação de seu corpo docente (v. quadro), a coordenadora acredita que pode extrair ainda mais da equipe de professores, para que estes, por sua vez, contribuam ainda mais para o desenvolvimento de seus alunos. “É uma constante no Sabin essa vontade de evoluir sempre, de não ficarmos parados, complacentes pelos bons resultados”, diz Áurea, que desde o início do ano está determinada a “dar uma chacoalhada” na equipe: “Estamos estimulando reflexões que promovam novas estratégias didáticas, novas atitudes em sala de aula, tudo para responder a uma pergunta fundamental: como nos tornar melhores educadores?” E a primeira providência, segundo ela, é ceder o centro da cena para o ator mais importante da aula: o professor como coadjuvante, o aluno como protagonista.
“É um fato: a geração atual de jovens é efetivamente diferente das anteriores”. Áurea está se referindo à dificuldade de concentração e à ansiedade comumente atribuídas aos chamados millennials, que têm impacto direto no rendimento do aluno em sala de aula. Mas não só. “Eles são perspicazes, muito espertos e muito rápidos, e têm vontade de fazer coisas, de produzir”, diz a coordenadora. Nesse sentido, argumenta, o desafio para o professor de hoje não é que ele não consiga mais, como antes, engajar o aluno em sua aula; é que ele tem de fazer por onde.
Foi para ajudar os professores nessa tarefa que a Coordenação reuniu a equipe, em janeiro, e passou orientações que podem fazer a diferença. Medidas concretas como reduzir o tempo de explanação na aula e propor mais atividades para os alunos: listas de exercícios, minissimulados, pesquisas, experimentos práticos, games educativos. “Tem professor que sabe muito sobre o assunto, e fala bem, e encanta a turma com seu jeito de dar aula, mas que deixa o aluno numa posição passiva, de plateia”, diz Áurea. “O que queremos não é só professores que saibam muito, mas também que motivem o aluno a exercitar o seu próprio saber, as suas descobertas. O bom professor não é ídolo, é personal trainer”.
Outra recomendação da Coordenação foi a de que os professores tratassem de pesquisar estratégias didáticas mais eficientes. “Pedimos que eles façam cursos, assistam a tutoriais, consultem nosso assessor de Tecnologias Educacionais, Paulo Fontes, sobre novos recursos, acompanhem aulas uns dos outros, observem como cada um compõe as anotações na lousa durante a aula”, diz a coordenadora. “E que compartilhem essas informações entre si. Precisamos dessa troca”.
Um bom exemplo dessa iniciativa se deu ainda em janeiro, quando o grupo de assessores de Biologia, História, Matemática, Português e Química do Ensino Médio participou de um curso da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL, na sigla em inglês), metodologia cada vez mais respeitada no meio educacional. Pela abordagem tradicional, o professor diz o que o aluno deve aprender, pede a ele que memorize e depois passa exercícios aos quais é preciso aplicar o novo conhecimento. Pela abordagem PBL, o professor primeiro passa um problema; com sua ajuda, o aluno deve identificar o que precisa saber para resolvê-lo e então vai atrás desse conhecimento. A diferença é enorme: não só o aprendizado tem mais significado (“para quê aprendo isso?”), como é mais instigante e percebido pelo aluno como uma realização sua.
E não é só no campo cognitivo que o professor pode se aprimorar. Uma das iniciativas mais relevantes do Colégio neste ano, na opinião de Áurea, foi a de estender o trabalho de formação em Educação Moral que era feito no Ensino Fundamental para o Ensino Médio. Desde fevereiro, professores do Médio se reúnem mensalmente com a psicóloga Flávia Vivaldi, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), para aprender como suas atitudes em sala de aula são tão importantes quanto seu conhecimento técnico.
“A ideia é ressaltar a necessidade de um olhar mais generoso e reflexivo do professor para com o aluno”, diz Áurea. “Professores do Ensino Médio são especialistas em suas disciplinas; mas, acima de tudo, são educadores. Não adianta só ensinar Física e não ter o cuidado de promover um ambiente de respeito em sala de aula. Isso começa com o próprio professor”.
Além disso, a ideia de trabalhar com os professores uma formação específica sobre o desenvolvimento de competências socioemocionais nos alunos também está nos planos do Ensino Médio do Sabin para este ano, segundo Áurea. É mais uma mostra da inquietação de um Colégio que já tem muito o que comemorar, mas que jamais ficará parado.