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26/06/2019

Diferenciais eletivos

Como a escola vai deixando de dizer ao aluno aonde ir, para ajudá-lo na construção do próprio caminho.

No início do ano, 12 alunos do 9º ano do Fundamental do Sabin tomaram a mesma decisão: tentar uma vaga em uma feira de ciências, que, caso selecionados, exigiria deles enorme dedicação, meses de leitura, experimentação e produção de relatórios, sem que isso representasse nenhum ponto a mais no boletim. Entre 20 de fevereiro e 23 de março, eles optaram por se inscrever, voluntariamente – pelo prazer do desafio, pela oportunidade de aprender e exercitar os passos de uma pesquisa acadêmica de verdade, com objeto de estudo, hipótese, bibliografia e tudo mais –, na 4ª edição do ConsCiência Sabin, Prêmio de Pré-Iniciação Científica que, pela primeira vez, foi aberto para projetos de alunos do 9º ano. E conseguiram: dos 25 projetos classificados para a Mostra Cultural, em outubro, três serão defendidos por esses 12 alunos (em dois grupos de cinco e uma dupla), que estarão lado a lado com seus colegas mais velhos, do Ensino Médio.

A participação do 9º ano na competição deste ano é novidade, mas a adesão dos alunos do Sabin a projetos eletivos está longe de ser incomum. Pelo contrário: num colégio que tem como lema que “ensinar é criar oportunidades”, a própria cultura institucional estimula o envolvimento dos estudantes em atividades acadêmicas, esportivas e culturais, oferecidas como complementos opcionais à formação de cada aluno – especialmente
a partir do 6º ano, quando o número de opções aumenta muito. E há uma razão para isso.

Segundo o coordenador pedagógico Laércio Carrer, a razão está em atender a um dos maiores objetivos do Ensino Fundamental II: a autonomia do estudante. “O Sabin tem como eixo promover encantamento em todas as etapas da vida escolar; no Fundamental II, esse encantamento vem principalmente da conquista da autonomia”, diz o coordenador. Este é o sentido da etapa, diz Laércio: “preparar o aluno para conquistar o seu espaço de protagonismo, de corresponsabilidade sobre sua vida; a escola passa a ser menos a instituição que diz ao aluno o que fazer e aonde ir e mais a que o auxilia a tomar essas decisões por conta própria”.

Na prática, isso se reflete no leque ampliado de modalidades do Programa Sabin+Esportes&Cultura – é no 6º ano que começam as aulas de Basquete, Futsal, Handebol, Vôlei, Teatro e Programação e Robótica; no 8o ano, as de Dança e Oficina de Arte; no 9º ano, as do Projeto Voluntário –, bem como nas oportunidades acadêmicas extracurriculares, à disposição dos estudantes.

No Fundamental II, o aluno do Sabin pode, se quiser, participar dos Módulos Preparatórios para Olimpíadas de Matemática (a partir do 6º ano), de Química
(8º ano) ou de Física (9º ano). Também pode aprimorar tecnicamente suas redações, com base nas leituras, discussões e exercícios da Oficina de Produção de Texto (que, embora prioritariamente voltada para alunos com dificuldade nesse campo, também pode ser feita por quem já escreve bem e queira praticar mais). Já no Ensino Médio, pode participar dos Módulos de Aprofundamento na 1ª e 2ª séries; assistir a quantas Aulas-Tema quiser (palestras semanais sobre assuntos da atualidade, com professores do Colégio ou especialistas convidados); e, finalmente, montar uma grade de até 32 disciplinas eletivas extras em seu último ano escolar.

Trata-se, enfim, de todo um percurso acadêmico construído cada vez mais pelas decisões do próprio aluno, de acordo com seus interesses pessoais, com o que ele se percebe querendo para si. E é justamente no Fundamental II que o que se quer para si costuma ficar mais claro.

“Esse processo é gradual, mas começa por volta do 6º ano”, diz a orientadora educacional Elaine Ramos. Segundo ela, como regra geral, os alunos entram no Fundamental II ainda esperando uma posição mais “maternal” dos professores – tanto no sentido de definir por eles o que fazer como no de aliviar as cobranças por deveres não cumpridos.

“No dia a dia, muitos chegam a nós com medo de crescer, não se sentem preparados para assumir responsabilidades”, diz Elaine, que, nesses momentos, busca acolhê-los e tranquilizá-los. “O aluno não anotou na agenda e esqueceu de fazer a lição? Tudo bem, vamos pensar juntos como resolver – mas vamos também reconhecer o erro. Não tem mais isso de ‘minha mãe não me lembrou’, porque não é dever dela”. Não usar a agenda, a orientadora lembra ao aluno, também é uma escolha do aluno.

E fazer escolhas é o ponto crítico no desenvolvimento da autonomia. Como explica Elaine, se até então mãe e pai tinham voz dominante sobre a vida escolar do filho, gradualmente a vontade do jovem – e do seu grupo de amigos – ganha peso. “É o processo de desenvolvimento emocional e cognitivo natural da pré-adolescência, é quando a maior parte das mudanças hormonais estão acontecendo”. Nesse momento, diz a orientadora, é preciso delicadeza para lidar com possíveis dilemas, como o medo dos filhos de não corresponder às expectativas dos pais, por exemplo.

“É um processo educativo para pais e filhos, na verdade”, diz Laércio. “Se uma família chega para nós e diz: ‘Eu queria colocar meu filho na natação’, nós temos de perguntar: ‘Certo, mas e ele? O que ele gostaria de fazer?’. Da mesma forma são todos os outros diferenciais à disposição do aluno do Sabin a partir do Fundamental II. Um professor que vê no aluno uma aptidão para a Matemática pode convidá-lo para o Módulo Preparatório da Olimpíada, jamais forçá-lo”. No fim das contas, são as decisões do estudante – disputar ou não uma olimpíada acadêmica, treinar ou não técnicas de escrita, assistir ou não a uma palestra, participar ou não de uma feira de ciências – que constroem o indivíduo que ele será no futuro.