A nova cara do Conde

Quem olhasse pelo lado de fora, para o alto muro verde, não seria capaz de notar. Mas o que a professora Daiane Moraes viu no início do ano, ao assumir a direção pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental Conde Luiz Eduardo Matarazzo, logo ali a 200 metros do Sabin, foi um desastre. “A escola estava judiada, coberta de pichação nas paredes, o banheiro depredado, a pia quebrada, sem água, sem descarga. O mau cheiro tomava conta”, lembra a diretora.

Como costuma ser, a depredação física era sintoma de algo mais profundo. A nova equipe gestora organizou assembleias com alunos, pais e professores e descobriu que a relação com a comunidade estava desgastada: “Os alunos não haviam se apropriado da escola, não sentiam orgulho do lugar. Os pais chegavam combativos, era tudo no grito, e a escola respondia sem apaziguar”, diz Daiane. Para mudar aquele cenário, era preciso trazer todos para o mesmo time. E a primeira providência foi dar uma cara nova à escola, mais afinada com as pessoas que ali estavam.

Com o apoio do Sabin, que já promoveu ações semelhantes em outras escolas públicas da região, Daiane chamou o grafiteiro Izu – nome artístico de Ivo Ferreira, 37 anos – para pintar as paredes e o muro do Conde, como é conhecida a escola. No lugar das pichações anteriores – nomes, palavrões e rabiscos à caneta –, desenhos dos alunos, que Izu reproduziu com guache ou giz de cera e finalizou com tinta spray. No processo, passou ensinamentos técnicos e estéticos para as crianças. “Se, de mil alunos, cinco ou dez saírem artistas, com a mente mais aberta, é uma vitória”, diz Izu, para quem o grafite já propiciou boas oportunidades (em 2015, assinou uma das ilustrações da linha Urbano de desodorantes da Natura).

A sensibilidade do grafiteiro, ele próprio morador de uma comunidade pobre no Butantã, a São Remo, foi determinante: “Nós tínhamos pensado em pedir desenhos temáticos para os alunos, como contos de fadas, por exemplo; foi Izu quem falou para os deixarmos livres”, diz Daiane. Se a ideia era que eles se identificassem com a escola, fazia todo o sentido.

Aos poucos, o clima começou a desanuviar. Na hora da saída, Daiane via crianças puxando os pais pelas mãos para dentro da escola, para mostrar, orgulhosas, seus desenhos nas paredes. Mas não ficou só nisso; a ação simbolizou o início da reaproximação do Conde com a comunidade. Desde então, a escola tem aberto suas portas aos sábados para eventos de festa e socialização com as famílias, como a Hamburgada do Bem, em maio; o 1º Festival de Mancala do Conde, em junho (Mancala é um tipo de jogo de tabuleiro de origem africana); e a Festa Junina, em julho, que arrecadou dinheiro para reformas necessárias, incluindo a construção de um parque infantil, uma das principais demandas das crianças.

Compartilhe