Exposição sobre frevo faz refletir sobre conceito de patrimônio imaterial.
Há patrimônios que não se guardam em cofres, que não se podem tocar, mas que têm imenso e inquestionável valor. A história de um povo ou de um país é
um desses patrimônios. Suas expressões culturais são outro.
O frevo – combinação de ritmo e dança típicos de Pernambuco, declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 2012 – completou,
em setembro, 111 anos de existência oficial. É de 1907 o primeiro registro na imprensa brasileira da palavra “Frêvo”, que designava um tipo de música carnavalesca especialmente agitada e efervescente. Na boca do povo, “ferver” se tornou frever, e o frevo nasceu, misto de passos da capoeira dos escravos com a sonoridade de marchas militares. Cento e onze anos depois, no Sabin, os professores das atividades culturais do Programa Sabin+Esportes&Cultura
viram no aniversário do frevo uma oportunidade. Desde 2014, o grupo tem buscado, sempre que possível, alinhar suas ações em torno de temas transversais. E ali estava um tema que tinha muito a ensinar.
Em primeiro lugar, era um mote para refletir, junto aos alunos, sobre o conceito de patrimônio imaterial: qual o valor de festas, costumes e tradições de um povo? Por que isso é considerado uma riqueza da humanidade? Segundo o professor de Teatro e assessor de Cultura do Sabin, Ricardo Sonzin Jr., era uma chance de investigar também “como sobrevive o patrimônio cultural, sua incrível capacidade de se manter vivo e pulsante, mas passível de influências,
diálogos e adaptações às exigências do mundo moderno”. E, nas semanas seguintes, foi o que fizeram os alunos do Sabin+Esportes&Cultura, cada grupo de acordo com a atividade cultural de que participavam.
Inspirados nos estandartes dos blocos carnavalescos, os alunos da Oficina de Arte criaram seus próprios estandartes, num trabalho de pesquisa e criação que os fez ver como as artes visuais podem transmitir e perpetuar elementos da identidade de um povo. As cores vivas da cultura pernambucana também marcaram o projeto do grupo de Programação e Robótica, que, utilizando ferramentas disponíveis no espaço maker, montou um painel decorativo com uma sombrinha – símbolo do frevo – que girava automatizada. Por sua vez, os alunos do Espanhol produziram folhetos turísticos (em Espanhol, naturalmente) com informações sobre atrações históricas, naturais e culturais do Recife, enquanto, no grupo do Voluntariado, uma pesquisa sobre o Paço do Frevo – espécie de museu do frevo, no Recife – levou os alunos a entender como se dá o trabalho de preservação e difusão de patrimônios culturais e a criar cartões para divulgar outras instituições ligadas ao tema.
Ao final, o grupo tinha elementos para uma exposição que ficou “em cartaz” no foyer do Prédio Picasso na semana do aniversário do frevo (14 de setembro). (Por motivos de agenda, os grupos do Coral, Teatro e Teatro de Inglês não participaram.)
“A exposição foi uma grande oportunidade para alunos e visitantes entrarem em contato com um universo, de certa forma, distante”, diz o professor Ricardo. “Cada vez mais nosso projeto tem tido essa ideia, de propiciar ao aluno o investigar e o experimentar a cultura que está além de seus arredores”. Um objetivo condizente com a imensa diversidade da herança cultural brasileira, que, justamente por ser tão diversa, revela-se patrimônio tão valioso.