Sawubona, ngubani igama lakho? e Igama lami ngu… querem dizer, respectivamente, “Oi, qual é o seu nome?” e “Meu nome é…”, na língua zulu. Essas eram as duas únicas frases que Giovana Valente, estudante da 3ª série do Ensino Médio do Sabin, conhecia do idioma falado por um dos maiores grupos étnicos que habitam o sul do continente africano. A princípio, parecia bem pouco para quem iria passar alguns dias trabalhando com crianças carentes em Durban, na África do Sul, no início de julho.
Mas, quando se trata dos pequenos, como imaginava Giovana, a língua não é uma barreira. “Logo no meu primeiro dia com as crianças, a Neli, uma menina zulu, aproximou-se e não disse nada. Simplesmente me abraçou e ficou o resto dos dias junto comigo. Não conversamos nenhuma vez, mas nos entendemos perfeitamente”, lembra Giovana.
Para quem conhece a jovem, a viagem à África não deveria surpreender. Participante do Grupo de Voluntariado do Programa Sabin+Esportes&Cultura há três anos, Giovana sempre tomou parte em ações beneficentes. No momento, inclusive, colabora por conta própria com uma ONG próxima de sua casa, onde dá aulas de inglês.
Pouco antes das férias de julho, graças a contatos familiares, ficou sabendo do Urban Ignition, um festival religioso que acontece em Durban e que, entre outras atividades, promove iniciativas em benefício da população carente local. Apesar de não ser religiosa, Giovana se interessou por trabalhar junto às crianças de uma instituição apoiada pelo festival, a Summerhill House. Misto de escola e centro de convivência, a Summerhill realiza atividades no contraturno escolar, a fim de tirar das ruas crianças em situação de vulnerabilidade.
Neli foi uma das crianças com as quais Giovana conviveu intensamente nos quatro dias que passou em Summerhill. O fato de ter estabelecido com elas um vínculo afetivo quase instantâneo, a despeito da língua, fortaleceu em Giovana algumas convicções. “Crianças, pelo menos até os cinco anos, são muito parecidas, seja no Brasil, seja na África”, diz. “E, quando nascemos, somos de fato iguais, não importa o lugar de onde viemos ou a cor da pele. Mas, conforme crescemos e vamos sendo influenciados pela sociedade, acabamos repudiando essa ideia de igualdade”.
Outra constatação – e essa surpreendeu a aluna – foi descobrir que sua experiência causou comoção. “Algumas pessoas me viram como uma espécie de salvadora por ter ido à África trabalhar com crianças. Faço a mesma coisa por aqui há anos, mas parece que passa despercebido”, reflete. Talvez essa percepção fosse diferente se, como defende Giovana, ações voluntárias fizessem parte do cotidiano de todos que podem oferecer ajuda. “Sou privilegiada, tive sorte de nascer dentro de uma bolha. Mas é preciso sair dela e ajudar quem está fora”, diz. Na África ou em qualquer lugar.