Com o Impacta Sabin, alunos, pais e professores sentiram-se corresponsáveis por uma sociedade mais justa.
Em algum lugar de São Paulo, um morador de rua tem uma colcha de retalhos confeccionada pela turma do Pré II A do Sabin, que o protege das noites de frio. Em um hospital, uma criança em tratamento quimioterápico adorna a cabeça com uma bandana feita pelo 1º ano E do Fundamental, enquanto, em outro ponto da cidade, alunos de uma escola pública aprendem Matemática por meio de ábacos e jogos também fabricados aqui no Colégio. Em outra escola – esta em Moçambique, na África –, crianças utilizam uma biblioteca cujos livros e almofadas, onde se sentam para ler e ouvir histórias, também foram doados por alunos do Sabin.
Encerrado o Prêmio Impacta Sabin, que durante meses mobilizou as comunidades do Sabin e do AB Sabin em torno de mais de 200 iniciativas socioambientais, esses e outros exemplos indicam que o projeto permanece dando frutos. Para a equipe gestora dos dois colégios, porém, o resultado mais importante do Prêmio não está em nenhuma iniciativa específica, mas no conjunto de todas, e no efeito que tiveram na formação de valores dos alunos e professores.
“Foi uma experiência de protagonismo que envolveu olhar criticamente para a realidade, sentir-se corresponsável pelo encaminhamento de ações para a melhoria da sociedade e para a preservação ambiental e vivenciar o planejamento, a implantação e a avaliação dessas ações”, diz Giselle Magnossão, diretora pedagógica do Sabin.
Para Dionéia Menin, coordenadora pedagógica da Educação Infantil e do Fundamental I do Sabin, garantir esse protagonismo de que fala Giselle foi o maior desafio enfrentado por sua equipe. Diferentemente dos alunos do Fundamental II e do Médio – cuja participação no Prêmio foi voluntária –, os alunos do Maternal ao 5º ano realizaram projetos coletivos por turma, todos tendo de colaborar um pouco. Além disso, havia a questão da maturidade: um aluno da Educação Infantil ainda não tem o mesmo nível de consciência socioambiental que os alunos de 6º ano em diante. O receio da equipe, lembra Dionéia, era de que as crianças mais novas encarassem os projetos apenas como mais uma tarefa escolar.
“Não podíamos deixar que as ações partissem somente das professoras; tivemos o cuidado de ir estimulando neles a reflexão sobre os problemas da sociedade, para que eles também propusessem ideias. Era preciso que os alunos sentissem, de verdade, ‘Eu fiz a diferença’”, diz a coordenadora.
Como exemplo, ela cita o projeto do Maternal II B: “Em uma discussão em classe, os alunos chegaram à ideia de que não se podia arrancar as plantinhas”, diz Dionéia. Em outras turmas, discussões como essa deram origem a campanhas sobre recolher fezes de cães em locais públicos, não desperdiçar comida, não brigar com os amiguinhos, entre outros motes que os alunos julgaram importantes. No Maternal II B, foram as plantinhas – um ponto de partida, de onde a professora extraiu da turma um aprofundamento.
“Ela dizia: ‘Certo, então não vamos mais arrancar as plantinhas. Mas o que podemos fazer para que outras pessoas não arranquem também?’”, prossegue Dionéia. “Os alunos respondiam: ‘A gente fala para eles!’ E a professora: ‘Legal, vamos passar nas outras salas e dizer isso para nossos colegas. E o que mais?’”. Ao fim, o projeto tinha evoluído para incluir, ainda, o estudo da flor tagetes, comum no pátio da Educação Infantil, cujas sementes, derrubadas pelo vento, foram recolhidas para novo plantio. “A professora foi conduzindo, mas os alunos sentiram que o projeto era deles”.
Já a turma do 3o ano C, por sua vez, não precisou de “empurrãozinho” para mostrar iniciativa. Pelo contrário. Os alunos decidiram fazer um projeto em torno do descarte correto do lixo. Para isso, planejaram uma visita à cooperativa de recicladores Recicla Butantã. “Eles pediram que o Colégio os levasse até lá, mas nós negamos, intencionalmente: ‘O projeto é de vocês’”, diz Dionéia. “Então, eles foram ao escritório da TransOeste [que realiza o transporte escolar do Sabin] e conseguiram carona em uma perua”. De acordo com a coordenadora, a turma ainda conseguiria, por conta própria, a doação de um latão de lixo a mais, para ser colocado no pátio do Sabin, e sacos amarelos – a cor referente aos metais, na classificação de lixos recicláveis –, porque havia descoberto que o alumínio de tampinhas e latas é o material
de maior valor no mercado da reciclagem.
Ao todo, a participação dos alunos da Educação Infantil (incluído o AB Sabin) e do Fundamental I no Prêmio Impacta Sabin resultou em 58 projetos. Inspirados nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) como metas para o ano 2030, os projetos consistiram em campanhas de conscientização sobre assuntos diversos – higiene e alimentação saudável, economia de água, proteção aos animais, etc. – e ações de arrecadação e/ou confecção de materiais para doação: roupas, livros, brinquedos, etc.
Para Suzy Vieira, coordenadora pedagógica do AB Sabin, “o grande ganho do Prêmio foi despertar nos alunos o olhar para o outro”. Segundo Suzy, os alunos tiveram a oportunidade de “exercitar a cooperação e o senso de coletividade”. Ações como hortas comunitárias ou a Estante Literária – uma minibiblioteca que ficou por meses na entrada do AB Sabin, com livros doados pelas famílias – tornaram tangível, para as crianças, o valor do compartilhamento.
Mas não só para as crianças, diz Mônica Mazzo, diretora do AB Sabin. “De uma forma geral, o desenvolvimento dos projetos sensibilizou toda a comunidade: os alunos, as famílias e o corpo docente. Todos passamos a incorporar valores de sustentabilidade que levaremos para além dos muros da escola”, diz Mônica, acrescentando que famílias chegaram a pedir que a Estante Literária continue no próximo ano, com novo acervo (os livros deste ano foram doados a uma creche municipal de Osasco).
O mesmo se deu no Sabin, revela Giselle Magnossão. “Alunos e professores manifestaram o desejo da continuidade. Estamos estudando maneiras de manter o Impacta Sabin, com alguns ajustes, como projeto permanente da escola”, diz a diretora. “Entendemos que essa sensibilização para os problemas que os cercam e a experiência de atuar sobre eles, ainda que de maneira modesta, possibilitam aos alunos o desenvolvimento de valores sociomorais e competências socioemocionais”.